Urnas eletrônicas: balanço final

Os leitores do blog já estavam habituados aos argumentos críticos das urnas-e brasileiras, até mesmo porque já reproduzi aqui debates havidos na página Vi o Mundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha. A crítica, de resto, é também ao TSE, ao seu poder havido por excessivo, como órgão que administra, legisla e julga matérias eleitorais, concentrando atribuições que deveriam estar separadas.

As críticas são, muitas delas, pertinentes. O que as enfraquece é o tom conspiratório com que alguns as manejam, numa excessiva carga emotiva trazida ao debate. Sim, temos construído no Brasil uma democracia, tendo a Justiça Eleitoral cumprido um importante papel, razão pela qual tem merecido crédito e respeito, aqui e alhures. E posso falar isso, justamente porque tenho sido crítico de decisões judiciais do TSE, de correntes jurisprudenciais criadas por ele artificialmente e da hipertrofia do poder judiciário.

Muito bem. Penso que resolveríamos o que há de essencial nas críticas formuladas com a adoção da materialidade do voto, à moda russa. Votar-se-ia em cédula de papel e se colocaria o voto em um scanner, que faria a digitalização e cômputo dos votos, servindo também como urna, preservando o voto originariamente dado para futura recontagem, em caso de necessidade. E, assim, teríamos meios de controlar posteriormente a veracidade dos dados apurados e divulgados, evitando fraudes.

Por que o TSE é tão refratário a essa solução? Esperava que o ex-ministro Fernando Neves,que advoga na causa movida pelo candidato João Lyra no "Caso Alagoas", pudesse nos responder. E ele nos responde, com a autoridade de quem promoveu noutros países a divulgação das nossas urnas-e. Ele elogia as urnas-e, sustentando, em entrevista que pode ser vista neste blog na coluna de vídeos ao lado, que o mérito delas é justamente permitir que as fraudes sejam detectadas. Coisa que Brunazzo discorda, consoante já vimos.

Bem, agradeço os que colaboraram com os seus comentários, indicaram páginas na internet e exerceram democraticamente a crítica. Torço que a causa dos defensores de mudanças e melhorias em nosso sistema de votação possa contribuir para a segurança dos resultados e para a nossa democracia.


Comentários

Parabéns, Adriano, pela clareza deste Balanço Final sobre as urnas eletrônicas.
Concordo que o acúmulo de poderes do administrador eleitoral esteja na raiz das diculdades para se fiscalizar o voto eletrônico.
Concordo que a melhor maneira de criar auditabilidade para a apuração eletrônica dos votos seja o que você designou como voto "à moda russa" (que é o mesmo método também adotado em 2008 na Califórnia e na Flórida).
Unknown disse…
Prezado Adriano

Cumprimentos pelo debate e pelo balanço final. Falta pouco para termos a honra e o prazer em providenciar sua carteirinha (à revelia) do BCDTE - Bando Conspiratório dos Defensores da Tranparência Eleitoral. Só duas observações ranhetas: 1. O insigne diplomata por 30 anos e consultor (em economia) concursado do Senado Federal, Adriano Benayon, ensina : 'Não acredito em teorias conspiratórias; acredito é em conspiração mesmo, pois vi muitas'. Eu acrescento: A conspiração faz parte de nosso dia a dia, pertence ao patrimônio cultural da humanidade, a história é e sempre foi movida por conspirações. Duas pessoas conversando, isso já constitui uma conspiração (vide Erasmo Dias, Obras Escolhidas...). 2. Corrigindo, respeitosamente, seu silogismo: Não reconheço no Armando Neves qualquer autoridade para opinar sobre a segurança da urna-e, pois, sem nenhum demérito, ele é leigo nesse assunto. Como acredito em sua honestidade intelectual, afirmo que o fato de ele ter divulgado a dita cuja no exterior significa apenas que ele foi iludido em sua boa fé.
Um abraço
Walter Del Picchia - Professor Titular da Escola Politécnica da USP - wdeltapi@gmail.com

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